top of page

Entenda todos os lados da gentrificação

Muitas vezes, áreas periféricas de uma cidade formam-se de maneira não planejada, através de invasões e de uma expansão descontrolada de loteamentos imobiliários em áreas afastadas. Esses locais sofrem pela falta de infraestrutura básica, como saneamento, asfalto, transporte público e locais de lazer de qualidade; são áreas deterioradas e desvalorizadas, possuem problemas econômicos, sociais e ambientais. Então, práticas de renovação, requalificação, revitalização e reabilitação urbana são acionadas para contribuir para a resolução destes problemas urbanos.

Primeiro, entendamos seus significados.

Brevemente: revitalização trata de recuperar o espaço ou construção; renovação trata de substituir, reconstruir, portanto pode alterar o uso; requalificar dá uma nova função enquanto melhora o aspecto; e a reabilitação trata de restaurar, mas sem mudar a função. Cada um desses processos gera, portanto, resultados diferentes para a área urbana, porém possuem o mesmo objetivo, que a população possa usufruir e ser impactada de forma positiva pela área transformada.

É nesse contexto que a gentrificação ocorre, pois estes espaços, até então abandonados e agora regenerados, passam a ser vistos com potencial por grupos com maior poder social e econômico, gerando aumento no custo de vida, e por consequência, afastando seus moradores tradicionais. E por isso, o termo vem sendo discutido com cunho pejorativo.

Em Porto Alegre, um ótimo exemplo disso é a Cidade Baixa, bairro boêmio que antes era habitado por ex-escravos. Apesar de muito pobre, era colado com o centro da cidade, então com o passar do tempo começou a ser frequentado pela classe média, aumentou os preços e hoje é um dos bairros mais valorizados da cidade.

Porém, é preciso perspectiva além deste lado sombrio, tão pregado ultimamente, e foco em soluções e alternativas que desmobilizem este impacto. O cuidado urbano é necessário para o crescimento da cidade e o termo gentrificação tem o cunho de atrasar este processo, fazendo parte apenas de uma ideologia ultrapassada. Já há estudos que mostram resultados da regeneração de bairros, praças e até cidades, sem que moradores antigos tenham sido expulsos, realocados ou sofrido qualquer perda, pelo contrário.

Nos Estados Unidos, moradores conseguiram, por causa da gentrificação, ampliar suas rendas. Apesar dos estudos serem inconclusivos, pois tratam mais de proprietários (que possuem renda sobre o imóvel) e menos de inquilinos (que pagam a renda para o proprietário do imóvel), abrem precedente para a corrente que vê o fenômeno como algo saudável para a vida urbana contemporânea.

Também, em uma observação positiva, o Federal Reserve of Philadelphia concluiu que a probabilidade de pessoas pobres de bairros em processo de gentrificação se mudarem para outro local não é maior do que a daqueles que moram em uma área não afetada. Na verdade, aqueles que permanecem em bairros em gentrificação colhem diversos benefícios, tais como a melhora no perfil de crédito, novas oportunidades de emprego e maior segurança. O Federal Reserve of Cleveland também concluiu que a saúde financeira dos habitantes melhora quando eles permanecem na área gentrificada.

E fontes como The Economist, CNN, NPR e The Telegraphrelatam, dizem que cada vez mais, a gentrificação, em geral, é uma mudança demográfica positiva: muitas cidades têm se tornado mais seguras e mais diversificadas, e está se tornando menos comum a segregação dos pobres para “bairros ruins”.

Inclusive, graças a isso, com o tempo ocorre o que chamamos de descentralização, em que as áreas centrais multiplicam-se e disseminam-se. O aparecimento de novos centros melhora a economia e a qualidade de vida das pessoas, pois diminui o uso de veículos, aumenta a humanização das ruas, gera segurança e um cuidado e compromisso com a cidade inteira e não apenas partes dela. Porque se antes o bairro era periférico, desvalorizado e longe do centro, onde as pessoas precisavam percorrer longos trajetos para chegar em seus trabalhos, e justamente por isso recebe uma intervenção, agora se densifica com novos comércios, programas culturais, espaços públicos bem planejados e serviços, criando assim um novo centro. A ilustração de Cedric Price mostra de forma clara essa nova cidade onde os centros estão espalhados para que todos tenham acesso as suas necessidades. 

Então, para nós, gentrificação na verdade é o processo onde as classes mais baixas transitam para a classe média. É o crescimento natural dentro de uma cidade onde a dinâmica das sociedades abertas é que permite a ascensão social. Nossa qualidade de vida não pode depender de comunidades protegidos por muralhas, alarmes e exércitos privados. Devemos voltar a olhar o espaço público como o coração da vida moderna; seu projeto, seu uso, sua gestão e novas funções. Repensar a rua, a praça, o parque, a arborização e a paisagem urbana, aquela que nos permita humanizar o espaço público e experimentar o encontro, o intercâmbio e a diferença. 

Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
No tags yet.
Siga
d9d97d48264770f85d35c208f279152c.png
bottom of page